domingo, 27 de janeiro de 2013

Para além da mente racional


PARA ALÉM DA MENTE RACIONAL

 

A maioria das pessoas passa a vida inteira aprisionada dentro dos limites dos próprios pensamentos; não ultrapassando uma estreita e individualizada consciência do eu, produzida pela mente e condicionada pelo passado.

Como em todos os seres humanos, existe dentro de si uma dimensão de consciência muito mais profunda do que o pensamento. É a própria essência da sua identidade. Podemos entendê-la como uma presença, perceção ou consciência não-condicionada.

(…) A descoberta daquela dimensão liberta-o, e liberta o mundo do sofrimento que inflige a si próprio e aos outros sempre que não vê outra coisa a não ser o “ pequeno eu, “ construído pela mente que governa a sua vida. O amor, a alegria, a criatividade e a paz interior duradoura só poderão ser vividos através da consciência não-condicionada.

Se for capaz de reconhecer, mesmo ocasionalmente, que os pensamentos que atravessam a sua mente são apenas pensamentos; se conseguir aperceber-se dos seus próprios padrões de reação mental e emocional à medida que eles ocorrem, tal significa que aquela dimensão já está a emergir de dentro de si como sendo a consciência onde os pensamentos e as emoções acontecem – o espaço interior intemporal onde o conteúdo da sua vida se manifesta.

Por vezes, podemos ser facilmente arrastados pela força da corrente do pensamento. Isto acontece porque todos os pensamentos julgam que são muito importantes e querem captar totalmente a nossa atenção.

Pratique um novo exercício espiritual: não leve os seus pensamentos muito a sério.

É muito fácil uma pessoa ficar encarcerada nas suas próprias prisões conceptuais.

Na ânsia de conhecer, de entender e controlar, a mente humana confunde as suas opiniões e pontos de vista com a verdade. Afirma: isto é assim. Teremos de ser mais abrangentes do que o pensamento para percebermos que qualquer interpretação que se tenha sobre a “ nossa vida “ ou a vida e o comportamento dos outros, qualquer juízo que se faça sobre uma situação não é mais do que um ponto de vista, uma de muitas perspectivas possíveis. (…) A realidade é um todo uno, onde todas as coisas estão entrelaçadas, onde nada existe em si e por si mesmo. Porém, o pensamento fragmenta a realidade – retalha-a em mil e um pedaços conceptuais.

A mente racional pode ser um instrumento útil e extraordinário, mas também limitativo quando se apodera completamente da vida e o impede de ver que a mente não passa de um aspecto diminuto da consciência que nós somos.

A sabedoria não é um produto do pensamento. É um conhecimento profundo que advém do simples gesto de se dar toda a atenção a alguém ou a alguma coisa. A atenção é a inteligência primordial, a própria consciência. Derruba as barreiras criadas pelo pensamento conceptual e, assim, surge o reconhecimento de que nada existe em si e por si mesmo. Reúne aquele que percebe e aquilo que é percebido, o sujeito e o objecto de conhecimento, num campo unificado de consciência, curando essa separação.

Sempre que nos enredamos em pensamentos compulsivos, estamos a evitar aquilo que é, a realidade tal como ela é. Não queremos estar onde estamos. Aqui, agora.

(…) Tal não significa abdicar de pensar, mas simplesmente não se identificar completamente com o pensamento nem ser dominado por ele.

Sinta a energia no interior do seu corpo. Quando o faz, o ruído mental abranda ou cessa de imediato. Sinta a energia nas suas mãos, nos pés, no abdómen, no peito.

Deste modo, o corpo torna-se uma porta de entrada, por assim dizer, para uma sensação de energia vital mais profunda, subjacente aos pensamentos e às emoções inconstantes.

(…) Porém, enquanto nos encontramos nesse estado, o pensamento racional não desaparece, continua disponível se for necessário para algum propósito prático. A mente mantém a capacidade de funcionar, e funciona perfeitamente quando é utilizada e se manifesta através da inteligência superior que nós somos.

(…) Nada disto é significativo para a mente, uma vez que ela tem coisas “ mais importantes “ em que pensar. Também não é algo que a mente memorize.

(…) O domínio de qualquer área em que nos empenhemos – a criação artística, o desporto, a dança, o ensino, a terapia – implica que a mente racional esteja posta de parte no assunto ou pelo menos esteja em segundo plano. Um poder e uma inteligência superiores, contudo, formando connosco uma Unidade, tomam conta da situação. Deixa de haver um processo de decisão; a ação acertada acontece espontaneamente. E não somos “ nós “ que comandamos. Dominar a vida é o oposto de controlar. (…) Significa associarmo-nos à consciência superior.

 

Eckhart Tolle

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