segunda-feira, 9 de julho de 2012

Lembrando Platão


"O que se pretende enfatizar com toda essa comparação entre filosofia e medicina antigas era a concepção de unidade e totalidade inerente a elas.  Não se pode falar de equilíbrio do corpo sem o equilíbrio da alma. Igualmente, uma parte do corpo não pode ser curada senão em função do todo do corpo e o corpo não pode ser curado sem ter em conta a alma. Em outras palavras, o homem entendido como um todo.

No trato do corpo, sua sanidade, Platão também recupera a concepção de justa medida da medicina, entendendo-a não em termos quantitativos e aritméticos mas qualitativos. A justa medida proporciona a saúde do corpo porque é o acordo intrínseco do organismo consigo mesmo e com o que lhe é exterior. No caso do homem, sendo alma e corpo, ela deve ser uma justa proporção entre essas duas partes. Como na medicina, a norma do corpo é a saúde e a da alma é a virtude.

Tratando especificamente da virtude da alma, Platão a entendeu como uma mediação entre o excesso e a falta, a justa medida entre o muito e o pouco. Na República podemos encontrar a conhecida tripartição da alma em concupiscível, irascível e racional, sendo esta a base para a organização da cidade-estado ideal: equivalendo a cada um desses aspectos da alma, estariam os três segmentos que constituem a República, ou seja, os produtores, os guardiães e os governantes. A cada aspecto da alma caberia uma virtude a ser alcançada: respectivamente, a temperança, a coragem e a sabedoria.

E seriam essas as virtudes que, respectivamente, caberia a cada segmento cultivar. Ou seja, realizar a função que lhe compete, segundo sua posição na hierarquia da República, segundo a justa medida, em outras palavras, segundo o que convém a cada um deles, de acordo com a orientação dos governantes. Estes, sendo os que buscam a sabedoria, são os filósofos, os que conhecem a medida e cultivam a virtude superior: a filosofia, a ciência do Bem. O resultado dessa harmonia no todo da cidade é a justiça, a virtude maior no pensamento político de Platão.

Sendo a justiça a principal virtude, é a que indica a harmonia e o equilíbrio da cidade e, individualmente, das forças da alma – sua saúde. E é este propriamente o sentido que Platão atribui à virtude: a saúde da alma. A mesma relação entre o saudável e o nocivo para o corpo se dá na alma. Se o que é saudável gera a saúde, o que é justo gera a justiça. Da mesma forma, o nocivo provoca a doença e o que é injusto, a injustiça."

Fonte: Saúde: uma abordagem filosófica


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