PARA ALÉM DA
MENTE RACIONAL
A maioria
das pessoas passa a vida inteira aprisionada dentro dos limites dos próprios
pensamentos; não ultrapassando uma estreita e individualizada consciência do
eu, produzida pela mente e condicionada pelo passado.
Como em todos
os seres humanos, existe dentro de si uma dimensão de consciência muito mais
profunda do que o pensamento. É a própria essência da sua identidade. Podemos
entendê-la como uma presença, perceção ou consciência não-condicionada.
(…) A
descoberta daquela dimensão liberta-o, e liberta o mundo do sofrimento que
inflige a si próprio e aos outros sempre que não vê outra coisa a não ser o “
pequeno eu, “ construído pela mente que governa a sua vida. O amor, a alegria,
a criatividade e a paz interior duradoura só poderão ser vividos através da
consciência não-condicionada.
Se for capaz
de reconhecer, mesmo ocasionalmente, que os pensamentos que atravessam a sua
mente são apenas pensamentos; se conseguir aperceber-se dos seus próprios
padrões de reação mental e emocional à medida que eles ocorrem, tal significa
que aquela dimensão já está a emergir de dentro de si como sendo a consciência
onde os pensamentos e as emoções acontecem – o espaço interior intemporal onde
o conteúdo da sua vida se manifesta.
Por vezes,
podemos ser facilmente arrastados pela força da corrente do pensamento. Isto
acontece porque todos os pensamentos julgam que são muito importantes e querem
captar totalmente a nossa atenção.
Pratique um
novo exercício espiritual: não leve os seus pensamentos muito a sério.
É muito
fácil uma pessoa ficar encarcerada nas suas próprias prisões conceptuais.
Na ânsia de
conhecer, de entender e controlar, a mente humana confunde as suas opiniões e
pontos de vista com a verdade. Afirma: isto é assim. Teremos de ser mais
abrangentes do que o pensamento para percebermos que qualquer interpretação que
se tenha sobre a “ nossa vida “ ou a vida e o comportamento dos outros,
qualquer juízo que se faça sobre uma situação não é mais do que um ponto de
vista, uma de muitas perspectivas possíveis. (…) A realidade é um todo uno,
onde todas as coisas estão entrelaçadas, onde nada existe em si e por si mesmo.
Porém, o pensamento fragmenta a realidade – retalha-a em mil e um pedaços
conceptuais.
A mente
racional pode ser um instrumento útil e extraordinário, mas também limitativo
quando se apodera completamente da vida e o impede de ver que a mente não passa
de um aspecto diminuto da consciência que nós somos.
A sabedoria
não é um produto do pensamento. É um conhecimento profundo que advém do simples
gesto de se dar toda a atenção a alguém ou a alguma coisa. A atenção é a
inteligência primordial, a própria consciência. Derruba as barreiras criadas
pelo pensamento conceptual e, assim, surge o reconhecimento de que nada existe
em si e por si mesmo. Reúne aquele que percebe e aquilo que é percebido, o
sujeito e o objecto de conhecimento, num campo unificado de consciência,
curando essa separação.
Sempre que
nos enredamos em pensamentos compulsivos, estamos a evitar aquilo que é, a realidade
tal como ela é. Não queremos estar onde estamos. Aqui, agora.
(…) Tal não
significa abdicar de pensar, mas simplesmente não se identificar completamente
com o pensamento nem ser dominado por ele.
Sinta a
energia no interior do seu corpo. Quando o faz, o ruído mental abranda ou cessa
de imediato. Sinta a energia nas suas mãos, nos pés, no abdómen, no peito.
Deste modo,
o corpo torna-se uma porta de entrada, por assim dizer, para uma sensação de
energia vital mais profunda, subjacente aos pensamentos e às emoções
inconstantes.
(…) Porém,
enquanto nos encontramos nesse estado, o pensamento racional não desaparece,
continua disponível se for necessário para algum propósito prático. A mente
mantém a capacidade de funcionar, e funciona perfeitamente quando é utilizada e
se manifesta através da inteligência superior que nós somos.
(…) Nada
disto é significativo para a mente, uma vez que ela tem coisas “ mais
importantes “ em que pensar. Também não é algo que a mente memorize.
(…) O
domínio de qualquer área em que nos empenhemos – a criação artística, o
desporto, a dança, o ensino, a terapia – implica que a mente racional esteja
posta de parte no assunto ou pelo menos esteja em segundo plano. Um poder e uma
inteligência superiores, contudo, formando connosco uma Unidade, tomam conta da
situação. Deixa de haver um processo de decisão; a ação acertada acontece
espontaneamente. E não somos “ nós “ que comandamos. Dominar a vida é o oposto
de controlar. (…) Significa associarmo-nos à consciência superior.
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