O Peso da
Liberdade
"Aquilo que não é consequência de
uma escolha não pode ser considerado nem mérito nem fracasso", a leveza decorre
de uma vida levada sob o teto da liberdade descomprometida, no entanto, a
leveza despe a vida de seu sentido. O peso do comprometimento é uma âncora
que finca a vida a uma razão de ser, qualquer uma que se constrói .
(Milan Kundera) em
A Insustentável Leveza do Ser
São muitas as
ocasiões em que referimos a “liberdade”, seja numa vertente ético-social, seja na
vertente dos relacionamentos, ou nas escolhas pessoais, que no cômputo da vida
acabam interligadas.
Quiçá possamos hoje,
dirigir a nossa reflexão para o autêntico conceito da liberdade, além do
corrente, que é liderado normalmente por critérios de pouca duração, que se
geram no interesse momentâneo e individual.
Mais ainda,
colocar estacas de sustentação à nossa definição de liberdade e ao “peso” da
mesma.
Inseridos que
somos numa sociedade com direitos e deveres, (estes quase sempre esquecidos) devemos constituir um Código de
Honra da Liberdade, cujo lema fundamental seria:
“A nossa liberdade
confina, na fronteira onde começa a liberdade do outro”
A construção da
liberdade é individual. As suas fundações são a veracidade, o humanismo, o
respeito. Já a expressão da mesma, só pode ser vivida onde não exista o medo, e
onde prevaleçam a educação, a cultura, e o conhecimento metafísico. Sem estas
pedras basilares, não é possível conhecer o rosto da plena e verídica liberdade.
- Liberdade, é o dizer não à
invasão da informação manipulada e manipulativa (quase toda ela) que invade os lares, que desestrutura as mentes em
formação, que inocula os venenos do consumismo, e estabelece uma urdidura ao
critério individual (robotização)
- Liberdade, é o reconhecimento dessa
mesma manipulação pelas substâncias viciantes, e negar-se a ser mais um número
nas estatísticas que somam poder, ao poder dos monopólios do tabaco, da droga,
dos fármacos.
- Liberdade, é a percepção genuína e
aplicada na interacção do dia-a-dia, da valorização do ser humano pelo que ele
é, e não pelo que ele tem.
- Liberdade, é o auto-conhecimento
aprimorado, de forma, a que cada um perceba que tem na sua vida o que ele
próprio criou, e de que nada nem ninguém nos pode dar, ou tirar, a liberdade
consciencial.
- Liberdade, é a responsabilidade lúcida
de cada atitude para com o nosso crescimento individual, e de que este, se
entretece com todos os que nos rodeiam.
Nos países onde se
pratica o sistema político chamado democracia, a responsabilidade individual é
maior, dado que esta contém a ferramenta primária que permite ao ser humano a
escolha, real, dos caminhos vivenciais. Mas constatamos que essa pseudo-liberdade
facultada pela democracia, foi desvirtuada, pois nunca como hoje as pessoas se
deixam conduzir, sem vislumbres de vontade, por poderes instituídos, os
visíveis, e os invisíveis.
Outro aspecto onde
o substantivo liberdade é
frequentemente utilizado, é no plano dos relacionamentos afectivos. Este
tornou-se salvo-conduto de vivências saturadas e desgastadas onde a
frontalidade das decisões é adiada e disfarçada pela falta dessa mesma
liberdade.
Tornou-se assim
argumento sem conteúdo, justificativo medíocre de atitudes que possam lesar os
compromissos da alma.
Os compromissos não
são pesos nem sentenças “sine die”, são o coagulante das razões do existir… podem
a todo momento serem revistos, finalizados, acrescidos, transmutados,
enquadrados na senda individual, pelo usufruto duma verídica liberdade. Também
neste campo:
- Liberdade, é não seguir a corrente
instalada na madraça acomodada, nos modismos, na libertinagem (muito confundida com liberdade).
- Liberdade,
é a lucidez de contornar o flerte ocasional, carícia do ego vaidoso e
decadente, que empobrece a promissora luz de cada um.
- Liberdade, é a nobre coragem de olhar o
compromisso pela sua melhor vertente e dele fazer estrela presente, ou cadente,
mas sempre, com a gratidão amorosa para com os passos que nos transportaram nas
sendas da vida.
- Liberdade, é também a renúncia, (em qualquer vertente), escolha consciente
da alma, em prol do bem comum… este, é o mais sublime acto de liberdade.
Que a Paz esteja
em nós, como a liberdade e o desprendimento estão numa avezinha do Céu.
A.
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