"O que se pretende enfatizar com toda essa
comparação entre filosofia e medicina antigas era a concepção de unidade e
totalidade inerente a elas. Não se pode
falar de equilíbrio do corpo sem o equilíbrio da alma. Igualmente, uma parte do
corpo não pode ser curada senão em função do todo do corpo e o corpo não pode
ser curado sem ter em conta a alma. Em outras palavras, o homem entendido como
um todo.
No trato do corpo, sua sanidade, Platão
também recupera a concepção de justa medida da medicina, entendendo-a não em
termos quantitativos e aritméticos mas qualitativos. A justa medida proporciona
a saúde do corpo porque é o acordo intrínseco do organismo consigo mesmo e com
o que lhe é exterior. No caso do homem, sendo alma e corpo, ela deve ser uma
justa proporção entre essas duas partes. Como na medicina, a norma do corpo é a
saúde e a da alma é a virtude.
Tratando especificamente da virtude da
alma, Platão a entendeu como uma mediação entre o excesso e a falta, a justa
medida entre o muito e o pouco. Na República podemos encontrar a conhecida
tripartição da alma em concupiscível, irascível e racional, sendo esta a base
para a organização da cidade-estado ideal: equivalendo a cada um desses
aspectos da alma, estariam os três segmentos que constituem a República, ou
seja, os produtores, os guardiães e os governantes. A cada aspecto da alma
caberia uma virtude a ser alcançada: respectivamente, a temperança, a coragem e
a sabedoria.
E seriam essas as virtudes que,
respectivamente, caberia a cada segmento cultivar. Ou seja, realizar a função
que lhe compete, segundo sua posição na hierarquia da República, segundo a
justa medida, em outras palavras, segundo o que convém a cada um deles, de
acordo com a orientação dos governantes. Estes, sendo os que buscam a
sabedoria, são os filósofos, os que conhecem a medida e cultivam a virtude
superior: a filosofia, a ciência do Bem. O resultado dessa harmonia no todo da
cidade é a justiça, a virtude maior no pensamento político de Platão.
Fonte: Saúde:
uma abordagem filosófica
Sem comentários:
Enviar um comentário